Hoje farei outro 'guest post'
Com a deliciosa postagem sobre o "Barreado" da blogueira Tuka Scaletti
Com a deliciosa postagem sobre o "Barreado" da blogueira Tuka Scaletti
"Nem se discute. Se algum prato paranaense merece a primazia de ser tombado pelo Patrimônio Cultural, essa iguaria é o barreado. É o único prato típico da cozinha paranaense. Herança ao mesmo tempo luso-brasileira e indígena, o barreado já era consumido há pelo menos 200 anos no Litoral paranaense, marcando especialmente a festa do entrudo -o antecedente do nosso carnaval-, na cidade de Antonina.
O Barreado é símbolo de fartura, festa e alegria . O nome do prato vem da expressão 'barrear' a panela, com um pirão de farinha de mandioca ou de cinza, impedindo que o vapor escape e o cozido não seque depressa.
A sua origem é objeto de crônicas e polêmicas que divide as cidades de Paranaguá, Antonina e Morretes, cada qual reivindicando a paternidade do prato. Com certeza é que o barreado era servido aos caboclos que iam a vila levar os produtos da lavoura e, posteriormente, foi adotado como prato típico da época do carnaval. Tudo começou quando a mulher, para poder participar do entrudo (precursor do carnaval), deixava a comida preparada de antemão para os quatro dias de festas, pois o barreado mesmo requentado, não perde o sabor original
A tradição desse prato confunde-se com a do fandango, já que era servido nas festas do entrudo ou nos mutirões, onde a dança também ocorria.
omo era no começo
Os primeiros barreados eram feitos dentro de um panelão de barro, vedado hermeticamente. Depois era enterrado e sobre ele acendia uma fogueira. O cozimento se dava com o próprio calor, sem que seja adicionada água alguma. A carne fica tão cozida que se desfia à toa, tomando o aspecto de um pirão.
Tal processo era conhecido tanto pelos ameríndios como pelos africanos conhecem esse processo. Os indígenas do Maranhão chamavam-no biaribu, que significa cozinhar em covas abertas com folhas verdes e cobrir com braseiro. Os negros da África Equatorial preparam as melhores peças de caça da mesma forma. Os indígenas Sioux, de leste do Mississipi e de Ohio, do grupo dos Assinoboines, entre o Yellowione River e do lago Winipeg, eram denominados Stoneboilers, pois cozinhavam o alimento em buracos cavados no solo e rodeados de pedras aquecidas.
A origem do barreado contada de pai para filho há mais de 200 anos em Morretes, quando os mamelucos e caboclos (filhos de índios com portugueses) vinham à vila trazer os produtos da lavoura de seus patrões. Ficando para almoçar lhes era servida uma carne cozida muito gostosa. Gostaram tanto que levaram a idéia para o sítio onde moravam, e sempre que os patrões iam visitar as plantações, eles ofereciam aquele prato saboroso. Como a carne era cozida por horas e horas, em panela de barro, para que ficasse bem macia o resultado era uma preparação seca, ou seja, sem molho, pois o vapor fugia pela tampa da panela.
O passo seguinte foi, então, fechar a panela de barro com folha de bananeira escaldada na água quente a fim de amolecer. Em seguida barreavam com um pirão meio mole de farinha de mandioca, cinza e água, dando origem ao nome Barreado.
Outra história do Barreado conta que a origem preparação se deu com os tropeiros que faziam o caminho de Itupava pela mata atlântica para comercializar erva-mate com o litoral. Isso aconteceu porque este prato é de baixa deterioração, o qual podia ser consumido durante toda a viagem de descida ou subida da serra. Os tropeiros faziam uma única refeição no período da tarde após o dia de marcha. Sua composição à base de carne gorda para fornecer a energia necessária e temperado com louro por se tratar de um excelente digestivo. Para acompanhar só farinha de mandioca escaldada pelo caldo grosso do barreado formando suculento e nutritivo pirão. A banana por ser uma fruta encontrada em profusão na serra era o outro acompanhante. Para terminar uma dose da famosa cachaça de alambique.
Lenda
Conta-se que, no litoral, os caboclos que se alimentam somente de peixe, abusam do barreado no carnaval e morriam de tanto comer. Disso surgiu à superstição que não se beba água quando se come o barreado nem mesmo até duas horas depois da refeição. A única bebida permitida é a cachaça.
NGREDIENTES:
CARNES: alcatra / cochão mole / peito / toucinho crú.
Quantidade para 30 pessoas:
6 kilos de ALCATRA
6 kilos de COCHÃO MOLE
3 kilos de PEITO
1 kilo de TOUCINHO
TEMPEROS:
Cominho, alho, cebola, louro, manjerona, vinagre, cheiro verde, pimenta do reino, pimenta de cheiro, sal.
COMO PREPARAR:
Cortar as carnes em pedaços (cubos) temperar com todos os ingredientes e deixar ficar numa vasilha a noite inteira.
Pela manhã, às 10 h colocar a carne com todos os temperos na panela de barro já curtida. O toucinho deverá ser cortado, uma parte em tiras fininhas para forrar a panela, outra parte cortar em cubos e colocar junto com as carnes.
Levar ao fogo e quando entrar em fervura, provar e se o sabor estiver a gosto, tirar do fogo e cobrir a panela com uma folha de bananeira, devidamente “sapecada”. Amarrar a folha com barbante grosso, bem firme, na borda da panela, colocar a tampa e lacrar (barreá-la) com a seguinte massa:
Juntar farinha de mandioca “surui” e cinza, um pouco de água até um ponto que dê para barrear (lacrar a panela).
Se durante o cozimento sair “bafo”, barreia-se novamente o lugar do vasamento.
O Barreado deve ser feito, preferencialmente, em fogão à lenha, em fogo brando, das 15h em diante e por toda à noite. Por volta das 07 h até às 11h manter em fogo alto, após tirar do fogo e aguardar a hora de servir.
Acompanha o Barreado arroz branco ou farinha de mandioca (de Antonina), laranja e banana.
É tradição comemorar a abertura da panela de Barreado com fogos de artifício, toque de sino e cantando o Hino de Antonina."